Porque a maioria das crianças e adolescentes, masculino e feminino, nestas idades, traduz à letra o que lhe é dito e não tendo o senso critico ainda formado para entender ou perceber onde está o perigo correm muitos riscos.
Sei que se pode ser jovem em todas as idades, mas nem todos o conseguem, lidar com os jovens será sempre mais fácil quando saibamos compreender os seus problemas, mas a par disso, é bom que saibamos partilhar os nossos. Tudo na vida tem presentes sempre dois lados, o bem e o mal, o fácil e o difícil, as opções gostosas e as dolorosas. Mas sejam quais forem as situações que se deparem, a primeira atitude deve ser o diálogo, não forçado, porque quando o jovem, por alguma razão, sente medo, só a suavidade no trato poderá resultar.
Será que entendo bem o que acabo de afirmar, dadas as dificuldades para atingir bons resultados, mas como tenho tido a felicidade de ter aprendido muito com os jovens, nos seus problemas, nas suas dificuldades e nos seus anseios acho que sou um homem com sorte. Acreditem que a minha maior dificuldade é ajudar, dado também aprender que quando existe alguém que não quer ser ajudado, é sempre mais fácil tirar-lhe tudo, por vezes até a personalidade, por isso é que num dos meus pensamentos do dia escrevi: “Há pessoas a quem não se lhes consegue dar nada, mas que lhe podemos tirar tudo”.
Até parece que estou a escrever por subentendidos, infelizmente não. De todos os casos que têm trazido amargura ao meu dia-a-dia, pondo bem escuro o meu Coração (aquele cantinho dos afectos que temos no cérebro), são todos os que sei não poder resolver jamais. Mas tento, porque não sei desistir e persisto nisso, persisto na luta, seja por um familiar ou por qualquer outra pessoa, tendo sempre presente que quando estamos doentes, precisamos de tudo e todos, muitas vezes, até dos nossos inimigos (que não nos incomodem). Os amigos, familiares ou não, esses são insubstituíveis. Sorte, bem essa não se tem, procura-se e depois há que tratar sempre dela como de uma flor.
COMPREENDER, hoje mais do que nunca, damos connosco a pensar: “Para que os meus filhos não passem pelas agruras que eu passei, sacrifico-me e dou-lhes tudo o que posso”. Será que lhes estamos a fazer bem, ou só algum bem, dar-lhes tudo o que podemos e/ou tudo o que eles querem? E o NÃO, e o deixa-los passar pelas dificuldades para que eles façam delas uma aprendizagem para a vida, como nós tivemos que fazer. É certo que no tempo de alguns de nós, para nos divertirmos não precisava-mos de gastar dinheiro. Agora nada é assim, é tudo à força de dinheiro, e se os jovens enfrentam tudo isto de vida fácil, com dinheiro que não ganharam, estão mesmo a fazer mal a si próprios e isso está bem patente no consumismo actual. Por isso é que num dos meus outros pensamentos do dia (por causa do consumismo e da vida moderna assente só no dinheiro) escrevi brincando: Ás vezes dou comigo a pensar, “Com o Telemóvel, Sexo e MSN, qualquer dia não temos tempo nem para namorar” (claro que a vida moderna não é assim tão restritiva no dia-a-dia, para muitos jovens).
Pois é amigos, estou com a conversa acima, a tentar ganhar coragem para dividir convosco os jovens, e os menos jovens, uma situação angustiante que encontrei através da Net de uma amiga há quase dois anos, a quem trato por “Amiguinha do Cavaquinho”, nome que ambos acarinhamos, porque na Associação dos Portugueses da cidade onde vive, ela tocava Cavaquinho, embora antes tivesse experimentando outros instrumentos, com destaque para a Concertina que também gostava de tocar, mas menos que o Cavaquinho. Não vive em Portugal nem no resto da Europa, mas obviamente não vou nunca revelar a cidade nem o país onde reside. É filha do segundo casamento do seu pai português com uma Senhora de nacionalidade espanhola, fala o português com uma mistura de espanhol, com algumas dificuldades na escrita, para além do idioma do pais onde reside, mas por sorte entendemo-nos muito bem e falamos de tudo, mas tudo mesmo e pelos reais nomes das coisas, sem recorrer a sinónimos como ficou acordado entre nós e dentro de um respeito saudável sem nos ferir-mos nas nossas sensibilidades.
É sabido que os jovens hoje, rapaz ou rapariga, começam a sua actividade sexual muito mais cedo duque muitos pensam ou fingem pensar. Os motivos são muitos, desde ser entendido como uma moda por uns/umas, como um estorvo por outros/as ser virgem, e entre os distintos motivos, a curiosidade, até que chega o dia da: “minha primeira vez” e na maioria dos casos a parte feminina não confirmou o que estava antes na sua curiosidade. Dai, muitas vezes, passarem, de forma muito persistente para a curiosidade de imaginar: “E se fosse, em vez dum puto da minha idade, com um homem mais velho, mais sabido e com mais prática, seria melhor?” É evidente que com alguns rapazes isto também se passa mas com menos acutilância. A verdade é que depois destes pensamentos, muitas e muitos, quando se lhes depara um par que lhes agrada, entram numa paixão que, enquanto não estabelecerem relações intimas com esse/a idealizado/a mais velho/a não mais param e muitas vezes acontece até com pessoas mais velhas duque os seus próprios pais.
Do que aqui vou falar, a pedido da minha “Amiguinha do Cavaquinho”, é um caso que pode espelhar um pouco o que acabei de narrar acima. Ela também viu numa pessoa mais velha que os pais dela, o seu “bonitão Ronaldo” que lhe ia satisfazer todas as dúvidas sexuais, para comparar a diferença da sua “primeira vez”. Como era muito exigente (com muita frequência) sexualmente procurou as mais diversas relações. Como ela mesmo diz, “fui insaciável”.
Estas como outras conversas tivemos e temos tido há quase dois anos. A par de tudo isto, fomos falando do uso da pílula, quais as finalidades da mesma na regulação menstrual e o evitar a gravidez, tendo sempre presente que não resulta em algumas mulheres, ou pela toma de algum medicamento que interfira com a sua acção, não evita a gravidez, sendo sempre aconselhável o uso do preservativo tendo presente que só este poderá defender-nos, de uma forma mais segura da gravidez, e essencialmente, defender-nos das doenças sexualmente transmissíveis, com destaque para a SIDA/AIDS e etc.
A minha Amiga do Cavaquinho tinha tido a sua “primeira vez” por volta dos seus 14 anos de idade. Quando começamos os nossos diálogos já ela tinha mais de 15 e nunca tinha ido a uma consulta de Ginecologia, pedi-lhe para me deixar ajuda-la e convenci-a a ir ao ginecologista, porque precisava da pílula para acertar o seu ciclo menstrual, e fazer exames para despistar outras doenças (que a mim me parecia ter), foi nesta altura que ela aceitou que eu a ajudasse que tive a prova de que, mesmo virtualmente, já éramos grandes amigos. Os exames efectuados comprovaram que tinha doença sexualmente transmitida, para a qual foi medicada. Pedi-lhe que ela levasse também o parceiro para ser tratado, o que ela tentou, mas não conseguiu que ele se tratasse e ele disse-lhe sempre: “olha eu só quero o teu bem, eu não tenho nada disso”. E o segredo bem guardado por ela, foi se avolumando de situações menos agradáveis.
Pelos 17 anos de idade, o pior aconteceu. Contou-me que foi fazer o exame de seropositividade e, já à mais de 1 mês que andava para o abrir, mas não tinha coragem. Pedi-lhe novamente para me deixar ajudá-la, perguntou-me como, ao que respondi, “embora a decisão seja sempre tua, vamos procurar a ajuda dos teus pais”. Recusou respondendo, “os meus pais deram-me sempre tudo o que eu quis, e se eu tiver SIDA, eles não poderão dar-me outra vida”, concordei com ela mas só em parte, e propôs que procurasse entre os amigos que pensasse serem os mais capazes, um que abrisse o exame, e fui-a animando e preparando para o embate terrível. Infelizmente, o pior aconteceu, o exame deu positivo, o sofrimento dela foi e é tanto que ainda hoje nos tira o sono…
Como dar conhecimento aos pais? Depois de imaginar-mos diversas formas de o fazer a minha Amiguinha do Cavaquinho deu provas de coragem e foi ela a pedir que, como desconhecido que eu era dos pais e fora daquele país, conversasse com eles. Aceitei e em conjunto estudamos a melhor forma de os abordar, informando e pedindo compreensão e ajuda. Numa tarde, a minha Amiguinha do Cavaquinho chamou os pais para virem ao telefone, apresentou-me como um amigo em quem confiava muito e que tinham de me ouvir e perceber tudo o que eu iria dizer até ao fim, assim aconteceu. Mas as conversas, que aqui não vou descrever, não decorreram nada da forma como nós tínhamos pensado, por fim consegui pedir-lhes que dessem muita atenção à filha, não lhe batessem, para ela não esconder em que precisava de ajuda. No dia seguinte, falando novamente com os pais, que se recriminavam e lamentavam não lhe poder dar outra vida, fui-lhes pedindo que lhe dessem o melhor que pudessem para esta vida que é a dela, através do carinho e afectos, fiz outras conversas que se imponham e estou muito grato aos pais pela compreensão e empenho que mostraram. Estes pais quando não podiam acompanhar a sua filha na Associação ou noutras festas e noutros eventos, chegavam a pedir ao "criminoso" que a desgraçou que olhasse por ela, dizendo: "Bem vê, nestas idades todos os cuidados são poucos, há que a defender dos lobos maus que por aí andam". O que não sabiam é que estavam a falar com o próprio Lobo.
Eu, a minha Amiguinha do Cavaquinho e os pais dela, aprendemos que a Net, como eu já afirmei noutras ocasiões, tem coisas más mas também tem muitas coisas de bom. Infelizmente, neste caso não cheguei a tempo. Mas sinto-me muito recompensado por ter chegado a tempo noutros, e os méritos não se devem a mim, em primeiro lugar devessem-se aos jovens que têm sido excelentes a dialogar comigo, depois deve-se à Internet que, como dá para entender, também serve para fazer muita coisa bem feita. Querem um exemplo: O indivíduo que cometeu o crime de transmitir a SIDA à minha Amiguinha do Cavaquinho, para além de não ter respeitado os direitos de uma adolescente, nunca lidou com um PC, muito menos com a Net, como ela mesmo disse: “nisso é tão burro, vê lá que ele nem sabe mexer no telemóvel, fui eu que tive de lhe ensinar como se faziam e liam SMS”.
Não me canso de lembrar que, o computador e a Net, hoje fazem parte das nossas vidas desde os bancos da escola. E isto leva-me a, mais uma vez, dirigir um veemente pedido aos pais, para que troquem uma horita de estar com os amigos e/ou na frente de um TV, pelo prazer de estarem ao lado dos vossos filhos no PC, lembrem-se para ver TV, normalmente, não pode haver diálogo. Nos PC/Net pode falar-se à vontade, conviver e dialogar lado a lado com os nossos filhos. Bem e se não pescarem nada de computadores, lembro-lhes que os melhores professores serão sempre os vossos filhos, por muito novinhos que sejam. E o orgulho que sentem, sem vaidades tolas, por ensinar os pais, falem com eles, mas preocupem-se mais em ouvi-los, sairão todos a ganhar. Foi a Internet que trouxe a minha Amiguinha do Cavaquinho até mim através do meu blogue Vieiras – Aboim da Nóbrega, depois de ter escrito no motor de busca do Google, o nome de Aboim da Nóbrega, onde encontrou as minhas páginas na Net.
Outra provação dolorosa chegou à minha Amiguinha do Cavaquinho, pediu-me que cumprisse a sua “última vontade” depois da sua partida para o outro reino, e neste meu blogue mostre o seu infortúnio, para que de algum modo, a sua vida ainda venha a ser útil para alguém ao que dolorosamente acedi. Ultimamente, depois de experimentar algumas melhoras, reconsiderou e pediu-me que publicasse já este post, porque o queria ler antes de se despedir de mim pela última vez, o que me cumpre, embora de coração partido, fazer. Também pode ser sinal de que os tratamentos estão a dar os seus bons frutos e tenho notícias animadoras.
A minha Amiguinha do Cavaquinho é mesmo uma grande Mulher e de muita coragem, pediu-me também que desse a conhecer o que de criminoso aconteceu com ela por ter tido uma paixoneta violenta por um individuo, mais velho que os pais dela cerca de 6 anos, também emigrante português, casado com mulher e filhos em Portugal a onde se deslocava várias vezes por ano, de entre os seus filhos, há raparigas menores, com menos de 17 anos de idade. Que era frequentador da casa dos pais onde comia bebia sentado à mesa com todos, e pelas costas andava a desgraçar-lhes a filha. Numas Associações de Portugueses, dizia-se Professor de Cavaquinho, noutras de Concertina, cativando as simpatias e paixonetas das adolescentes, bem como, as famílias destas. Trabalhava pouco, ia fazendo uns ganchitos.
Quis Deus fazer a boa acção de o levar deste mundo, talvez para salvaguarda de outros/as adolescentes que não têm culpa de terem tido uma paixoneta, paixoneta não é crime, mas quem não respeita um/uma menor comete crime, disso não há a menor dúvida.
Obrigado Amiguinha do Cavaquinho por existires, a tua coragem é um exemplo para muita gente, estou contigo para todo o sempre, tu continuas a dar provas de que és forte, e vais vencer mesmo, estar seropositivo não é condenação e como tu bem sabes e dizes, não tens SIDA. Além disso eu vou durar mais de 100 anos e tu vais ser testemunha disso, tá?
Enquanto não chegar a altura de te dar um abraço muito grande pessoalmente, vai aceitando as minhas flores, que aqui são simbólicas, mas como sabes, temos também as flores dos nossos pensamentos e os meus pensamentos estão contigo Amiguinha do Cavaquinho. O meu beijinho de sempre.
Félix Vieira
Cumpre-me esclarecer, que a boa harmonia existente actualmente entre a minha Amiguinha do Cavaquinho e os seus pais é de louvar, porque apoiaram também a sua adorada filha na pretensão da publicação deste texto no meu blogue, com a recomendação de que não omitisse nada. Vejam só, ainda me deram mais uma agradável alegria ao dizerem que gostavam de o ver publicado do
DIA DA CRIANÇA. Bem hajam por tão brilhante e carinhosa ideia.
Neste Dia da Criança, convido-vos a estarem atentos, dialogarem e ajudarem os jovens a terem o futuro mais sadio a que têm direito. Cumpre-me também informar que este texto antes de ser editado foi lido tal como está aqui pela minha amiguinha e pelos seus pais.
Texto escrito e editado por Félix Vieira