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Poderá não ser vulgar encontrar a imagem de um Campo Santo
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07/01/2007

BOI DAS BACAS (BOI DA RODA) E AS LAVRADAS NO ÂMBITO COMUNITÁRIO

BOI DAS BACAS (boi das vacas, Boi da Roda). É verdade, também havia o boi das vacas para uso comunitário, não sei se ainda há. Começava por ser escolhido um exemplar que reuni-se as melhores qualidades para a reprodução. Não sei se comprado por todos os habitantes da freguesia ou doado por alguém.

Era utilizado por todos os lavradores que tivessem gado (vacas) para cobrição. Nalguns actos de cobrição das vacas, com toda a minha naturalidade de criança, observava conversas da circunstância, como: "a pá um lenço é pouco, pelo menos mais um lenço ou dois, pode não ter pegado (não ter ficado prenha) só com um" (lenço era o termo usado para qualificar o número de vezes que a vaca era coberta (acto do coito).

A alimentação e cuidados com este boi, também eram colectivos. O boi passava a noite e o dia seguinte com um dos "utentes" onde era alimentado, cuidado e contribuía, quando fosse caso disso, com os seus lenços e ao fim do dia era entregue ao utente seguinte e sucessivamente.

Não fazia mal a ninguém, a menos que se metessem com ele, ou contundissem com os seus domínios (é "humano"/próprio do reino animal). Minha Mãe não tinha vacas, nem em sonho, mas meu avô Domingos sim. E numa das vezes em que a "Internet" (sinal do lenço branco à janela) do meu avô, convoca minha Mãe para o trabalho que nos esperava no dia seguinte, lá fomos. Chegados a casa do meu avô no dia seguinte, já a madrasta de minha Mãe (meu avô casou segunda vez, pois minha avó materna morreu no parto), toda atarefada estava a tratar dos cozinhados que se impunham para o dia, que era de lavrar algumas terras e logo nos deu algo para matar a fome.

Para a lavrada vinham os outros lavradores – contribuindo comunitariamente - trazendo ou não também algumas juntas de vacas para puxar o arado (charrua). A primeira junta (um par de bacas) era fixada ao arado e sequencialmente mais uma ou duas juntas, conforme a dureza ou não do terreno e o espaço do mesmo para viragem das vacas no término das leiras dos campos de cultivo, nalgumas destas leiras existiam altos balados (valados) a separá-las.

Aqui aconteceu mesmo. Era uso e costume pôr um moço dente das bacas (um rapaz a diante das vacas) segurando-as pela soga e conduzindo-as. Neste dia a sorte coube ó Félix. Tudo foi andando bem na parte da manhã, mas depois do almoço, aqueles senhores que tangiam as bacas já com umas malginhas do berde a bordo (Vinho Verde, especialidade da região), não sei aquilatar até que ponto, mas a verdade é que desataram a apertar com as bacas não lhes dando tempo nem espaço para virarem no fim das leiras. Nalgumas dessas viragens eu já passava no ar suspenso das vacas pela soga, acabando por cair à leira de baixo, na horta. Levantei-me bastante assustado e fui-me dali.

O pior foi ao anoitecer, ao aproximar-me da casa de meu avô Domingos que estava com conversas que faziam aumentar os " espinhos" de minha Mãe, que ao ver-me diz "entra meu melro que já conversamos".

Perante a situação, pensando eu numa estratégia para os demover, fui tentando dar-lhes a volta para entrar, mas como eu tinha pouco jeito, não resultou. Encarando procurar onde poderia ficar, lembrei-me de um cortelho dos porcos que o meu avô tinha vago, por já lá não dormirem os porcos (suínos). Eu sabia que aquilo estava limpinho com rama das giestas fresquinha no chão, porque era debaixo de um Cabanal (género de angar à entrada dos domínios do meu avô), alto, o tecto do cortelho era só algum colmo (palha de centeio) distendido sobre algumas ripas de madeira.

Se bem pensei melhor o fiz, como não me queriam deixar entrar sem experimentar os espinhos, dirigi-me ao cortelho entrei de marcha atrás para deixar a porta fechada, continuando a afastar-me tacteando um lugar para me sentar, encontrei algo alto e só entendi que era a cabeça de um toiro quando este ao levantar-se me fez furar o colmo e ficar lá em cima, ouvindo a sua respiração já mais forte e que eu não tinha notado à entrada do cortelho.

Mais uma vez a minha sorte aconteceu, para estar aqui vivo a falar disto com o mundo. Como é natural saí dali num foguete, entrei assustado na casa de meu avô. Minha Mãe, ao ser informada pelo meu avô que tinha recebido o boi da roda por ser a sua vez e o tinha posto no cortelho dos porcos, apertou-me nos braços com muita força e mais uma vez se transformaram os espinhos em rosas. Comi e acabei por passar uma noite tranquila, e porque não? Pois tinha ao pé de mim Uma Mulher de Valor...

Escrito por Félix Vieira
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