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AGRADECIMENTO PÚBLICO:

Poderá não ser vulgar encontrar a imagem de um Campo Santo
Ver mapa maior">(clique aqui para ver a imagem) postada num blogue. Mas há uma razão muito válida para tal, a de agradecer publicamente às pessoas que, anonimamente, têm cuidado e ornado a campa dos meus saudosos pais, António do Marta e Josefa dos Ferreiros. Estou feliz por ter sabido quem são e eternamente agradecido a ambas pelo carinho desinteressado e a estima dedicada. Nós vos estamos gratos para todo o sempre. Bem-haja.

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01/01/2007

A CRENÇA E AS CEREJAS

Até parece que estou a usar estes textos para falar de mim, mas não, eu sou só o pretexto para falar de Aboim da Nóbrega, das suas gentes e as suas vivências.

É Claro que crenças em lendas, milagres, superstições e outras formas de fé, sempre existiram e existem ainda em Aboim da Nóbrega como em qualquer parte do mundo.

Eu acalentava a ideia de que quando soubesse ler viria logo para Lisboa (o que aconteceu), mais exactamente Vila Franca de Xira, onde o meu Pai já se encontrava. Como muitos outros, meu Pai que já tinha estado na França antes de casar, na altura da 2.ª guerra mundial, tentou primeiro ir para o Brasil, era na altura o que todos queriam para sair dali. Não se ouvia ninguém dizer, vou para Braga ou Porto, era só Brasil, Brasil e quando isso não se conseguia então ia-se para Lisboa. Meu Pai até chegou a vender um campo para ver se ia para o Brasil, mas depois de lhe "comerem o dinheiro", lá lhe deram a volta e ele não foi mesmo. Já quando eu era adulto, meu Pai foi-me confidenciando que lhe pareceu ter havido ali dedinho da PIDE (polícia política daquela época).

Em princípio de um mês de Maio e um Sol forte de Primavera, trajando eu em fralda, explicando bem: lá dizia-se andar em fraldas, aquele que só trazia uma camisa vestida, era o que havia. As árvores em flores umas, e já com frutos outras, mostravam-se atraentes por todo o Eido (campo dos meus pais). Um dia vindo eu nesse Eido subindo até à casa, deparei-me com minha Mãe, de barriga muito grande, já próximo do fim do tempo de gravidez, sentada num portelo sobre uma parede de pedra que lá existia à entrada do Quinteiro (quintal pequeno), onde agora está a cancela de ferro da entrada.

Com seus olhos rasos de lágrimas brilhantes como que sorrindo com ironia. Olhou-me afagando-me a cabeça, continuou fitando uma cerejeira já velhinha que para o lado do muro que a separava de um caminho, tinha um tronco muito viçoso e foi nesse tronco lá em cima na horizontal que apareceram as primeiras cerejas. Os nossos olhos comunicavam muitos pensamentos e minha Mãe exclamou "ai que eu comia aquelas cerejinhas" (que estavam pouco mais que a pintar).

Veio-me à cabeça, com muita insistência, o que já tinha ouvido muitas vezes de que, quando uma grávida tivesse um desejo e o não satisfizesse, a criança nascia de boca aberta, havia ainda outros que falavam de mais consequências .

Enchi-me de coragem, apertei a camisa à cintura com uma corda para que fizesse de bornal quando eu metê-se as cerejas para o seio. Ai vou eu, gatinhando cerejeira a cima e minha Mãe sempre dizendo "cuidado meu filho que tu cais" e observando ávida de desejo pelas cerejas. Chegado a essa pernada mais viçosa que era em forma de lomba com alguns rebentos novos ainda tenrinhos e que eu esmaguei um pouco gatinhado sobre eles deixando aquilo húmido. Chegado lá, toca de meter cerejas para o seio enquanto cabiam e minha Mãe dizendo "anda meu filho que já chegam".

No regresso é que foi o bô (bom) e o bonito, como era uso lá dizer-se, lá me fui fazendo ao tronco em lomba horizontal e mais ou menos a meio dele, aí venho eu a rolar. Devo ter desmaiado. Lembro-me muito bem que quando os meus olhos voltaram a ver estava a minha Mãe a chorar na minha frente comendo cerejas e comigo muito junto ao seu peito. Esse local era numa eira que havia ao lado direito da entrada para a casa de Dona Carminha, "dos d'Arauja". Percebi depois que foi ali que minha Mãe veio pedir ajuda, porque estavam ali pessoas a trabalhar nessa eira que me terão feito o curativo (sabe se lá como) e me ataram um pano branco na cabeça que eu pareceria mais um árabe.

Umas semanas depois, nascem os dois dum bentre (ventre). Primeiro o meu irmão Domingos, que veio a falecer cerca de dois anos após. E minutos depois nasce minha irmã Rosa, que está agora emigrada em França.

Digam lá se não valeu a pena ter ido às cerejas…? Era um garoto cheio de sorte nos azares, não era?

É fácil perceber que o que se passou com minha Mãe, não era uma situação vulgar do desejo de uma senhora no início da sua gravidez, mas sim, a necessidade de procurar alimentos...

Escrito por Félix Vieira
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