Contador anterior desde 2007 contou 47.000 visitantes, a que somarão os do contador seguinte:

Se for mesmo muito curioso ou não concorda com o conteúdo deste blogue, deixo-lhe o meu correio electrónico xilefe@gmail.com para que possamos discutir estes assuntos e corrigir os erros ou gralhas daquilo que escrevi. Da diferença nascerá a verdade dos factos. Todos é que sabemos tudo.
Podem usar os textos, imagens e vídeos, desde que informem a autoria e o local da divulgação.

Quer saber o que publicamos neste blogue em 2006?

Clique AQUI

AGRADECIMENTO PÚBLICO:

Poderá não ser vulgar encontrar a imagem de um Campo Santo
Ver mapa maior">(clique aqui para ver a imagem) postada num blogue. Mas há uma razão muito válida para tal, a de agradecer publicamente às pessoas que, anonimamente, têm cuidado e ornado a campa dos meus saudosos pais, António do Marta e Josefa dos Ferreiros. Estou feliz por ter sabido quem são e eternamente agradecido a ambas pelo carinho desinteressado e a estima dedicada. Nós vos estamos gratos para todo o sempre. Bem-haja.

Translate - Tradutor

22/03/2007

A MINHA FIGUEIRA

A BURRA DO MEU AVÔ E A FIGUEIRA

Em Aboim da Nóbrega era (é?) uso chamar-se Burra ao que em português comum se designa por Égua, no presente caso a Burra do meu avô paterno, Sr Domingos dos Ferreiros (este o nome porque era mais conhecido), era uma Burra das mais grandes, muito bonita, esperta e tinha muitas outras qualidades. Era o transporte privado do meu avô, ele equipava-a muito bem, tinha muito jeito para manualmente trabalhar os arreios com as suas distinções, o que se tornava mais saliente ainda quando ele fazia os seus próprios jugos para as bacas (vacas). Meu avô, tinha jeito para tudo, era o que se poderia chamar de "homem dos sete ofícios", era ele que cortava o meu cabelo, comentando às vezes "tens um cabelo torcido, sais lá ao teu pai", mas o meu Pai tinha um cabelo bem liso, falava mesmo em sentido figurado. Meu Avô e meu Pai nunca se entenderam lá muito bem, esteve sempre de pé a trás, desde o começo do namoro com a minha Mãe. Às vezes ouvia perguntarem a minha Mãe se gostava muito de meu Pai e a resposta não se fazia esperar: "Oh moça está lá calada mulher, o puto é/era muito bonito".
Com esta Burra branca, que ao longe mais parecia um potente Cavalo, meu avô concorria nas provas dos concursos que se realizavam entre Portela do Vade e Santo António Mixões da Serra, atravessando os caminhos de Aboim da Nóbrega por Barges, porque nessa altura ainda não havia estrada. Existiam prémios, não só para os que chegassem nos primeiros lugares, como também, para os que apresentassem as melhores burras (éguas) e cavalos, os melhores adornos e os mais bem trabalhados, cada um exibindo os seus motivos.
Era com esta Burra e seus bons equipamentos que o meu avô se deslocava para todo o lado. Depois tudo era arrumado, da forma que ele tinha destinado, ninguém ousava tocar nos apetrechos e adornos para a Burra, mas meu avô deixava-me cuidar dela em tudo.

Zelar por ela enquanto ele tratava de algum assunto, como por exemplo, enquanto ele assistia à missa. Sabem, meu avô fazia parte dos dois ou três homens que assistiam à missa, entrando pela porta lateral da Igreja que fica entre a torre dos sinos e a capela, ficando entre as Senhoras, na parte da Igreja que a elas pertencia (parece-me que ainda hoje assim é). Reparei nisso aquando dos funerais de meu Pai e minha Mãe (que Deus os tenha em descanço), e nas missas a que assisti por alma deles, sem qualquer intenção ou propósito, fiquei no meio das Senhoras, e os seus olhares, até de rapariguinhas dos 10 aos +/- 18 anos, falavam comigo isso mesmo. Minha Mãe quando falava de meu avô, dizia que ele também era muito bonito.
Era eu que quando estava na casa do meu avô tratava da Burra, levando-a a pastar nos campos ou nos montes. Nos montes chegava a ficar por lá semanas, às vezes tinha que a ir buscar quando o meu avô precisava dela. (Nesse tempo não havia ladrões de gado…). Os equipamentos que eu usava na burra chamavam-se, em plaxo (placho), ou seja, sem nada, mas eu conduzia-a sem dificuldades, tinha-mos os nossos códigos, o que não obstou a que, nalgumas circunstâncias me tivesse visto em apuros, como numa das vezes que a ia pôr a pastar num campo junto a um dos moinhos, como o que se vê no mini filme do Rancho das Lavradeiras de Aboim da Nóbrega.
Deslocava-me devagar para lá, na saída de Barjes (sentido Lameiras), quando de surpresa pássaros levantaram vou-o com forte barulho, a Burra espantou-se desatou a galope, eu não conseguia domina-la, ao chegar ao pé do dito moinho, estancou e eu voei para cair meio dentro de água. Doeu um pouco, reparei que a burra se aproximava de mim, como que a pedir desculpa, montei novamente e lá continuamos amigos.
Numa outra ocasião em que, minha Mãe voltou a deixar comigo a minha irmã Rosa, chegado o momento de levar a Burra para pastar, não tive outro remédio senão levar minha irmã comigo na Égua, o que veio a acontecer mais vezes. Nesse dia, levava-a comigo sentada em cima da Burra atrás de mim agarrando-se com muita força, nessa altura já minha mana estava começando a falar e repetia muitas vezes: "féiiis eu cai…", por sorte e graças à Burra nesse dia não caiu, porque logo de seguida, ao aproximarmo-nos do tal local a onde a Burra já se tinha espantado anteriormente, desta vez parou e eu não consegui que ela me obedecesse enquanto não tirei minha irmã de cima, também desci e caminhamos até ao nosso destino.
De outra vez quando fui buscar a Burra, já ao pôr do sol, caminhado para casa junto à fonte do Dente Santo, pareceu-me que ela vinha contrariada, talvez quisesse estar mais tempo no campo pois estava calor. Mais a diante tivemos que subir uma transversal em direcção à casa do meu avô que confluía com outro caminho que tinha uma grande Figueira alongada para cima da transversal, que eu ao passar a cavalo debaixo dela tinha que me deitar sempre para as crinas da Burra bem agarrado. Nesse dia ao passar esqueci-me de me baixar, bati nesses ramos a Égua espantou-se e fugiu, mesmo tendo-me eu agarrado nas ramagens da figueira, partiram e eu dei com os costados naquela calçada de pedra grande (tipo calçada romana). Mas sabem, tive muita sorte, porque quando reparei bem, estava à beira de um precipício com aproximadamente 12 metros de altura e a Burra também desta vez se aproximou de mim e encostou-me a cabeça como que a fazer tadinho… Era um "puto" de sorte, não era…? Dali em diante sempre que ali passava, reparava como gato escaldado…, dizendo para com os meus botões, olha a minha figueira…
Nota: Nesta imagem, que alguém de bom gosto fez, vê-se toda a área de Barjes e envolventes, por onde eu me deslocava com a Burra do meu avô materno.
.
 
Escrito por Félix Vieira
.

Sem comentários: